O episódio já inicia com uma perseguição policial. Desde que perdeu seus poderes devido ao Sol para salvar Clark no episódio 8x01 “Odyssey”, o marciano John Jones passou adoptou uma vida de policia-detetive, assim poderia combater o crime e auxiliar Kal-El na sua nova jornada. Muito boa a cena de perseguição do Marciano ao contrabandista Russo Polonês Coreano. Ao princípio a maioria pode estranhar como alguém sairia sozinho sem pedir reforços policiais atrás de um contrabandista de alta periculosidade, mas o Marciano viria a explicar essa atitude nonsense no final do episódio. Pois é, azar daqueles críticos e apreciadores de novelinhas que já queriam cavar um buraco por causa desse aparente erro, mas a explicação do Jones no final salvou a produção.
A princípio, pensava-se que o conflito era contra os heróis que estariam levando os créditos dos policiais. Mas no caso do Marciano, ele estava justamente envolvido numa investigação que estava no encalço destes maus policiais. Por isso ele acabou sendo baleado.
Curiosamente esse é um tema recorrente nas aventuras de um herói concorrente. Um certo encapuzado que mais parece um morcego. Foi muito interessante ver em Smallville um tema muito abordado nas histórias do concorrente Batman. A corrupção policial, a suposta rendição da polícia aos desmandos do sistema e a velha rivalidade e hostilidade entre a polícia e os heróis de fantasia é um tema recorrente em Batman que sem querer acabou caindo como uma luva numa história sobre o Super.Também fica mais evidente do que nunca que o Arqueiro Verde não passa de "o papel que era para ser desenvolvido pelo Batman, mas na falta da liberação da DC, se não tem tu vai tu mesmo". Afinal até mesmo o ódio contra o Arqueiro Verde pela polícia e a caçada da polícia contra ele antes da definitiva consagração é algo claramente clonado das primeiras histórias de Batman, que vivia em total pé de guerra com a polícia até conseguir o apoio do Comissário Gordon.
Em vista de tudo isso, a inserção de Daniel Turpkin foi excelente em Smallville e o actor escolhido desenvolveu bem o papel. Aliás, agora que Smallville inseriu-se definitivamente no quotidiano cosmopolita de Metrópolis, deviam manter esse tema aceso, mesmo que com pequenas aparições, nos próximos episódios. O posicionamento da polícia em relação aos heróis é algo que merecia continuar sendo explorado. Seria inclusivé uma maneira de dar uma utilidade efetiva ao Arqueiro Verde, ao invés de viver sempre as sombras dos feitos certinhos do Clark ou atrás do rabo de saias da Tess.
Enquanto isso, Clark resolve desenvolver seu lado detective e estimular sua inteligência tão mal aproveitada no passado por sempre ter em quem se apoiar - leia-se Chloe “Suporte Google com Anti-Vírus” Sullivan - e mesmo ao lado dela (que só aparece numa cena em todo o episódio), é ele praticamente quem soluciona sozinho o que pode estar acontecendo. Enquanto isso, Chloe já admite a falta que Brainiac faz ao seu cérebro.
A pergunta que fica é: será mesmo que Chloe realmente se livrou de Brainiac? Para mim (e espero que seja assim), ainda sobrou algum resquício adormecido dele lá dentro, assim como ele esteve adormecido durante os 8 primeiros episódios, enquanto Chloe só se aproveitava dos benefícios sem ser afectada pelo real Brainiac em acção. Porque, afinal, se tudo não passou dali e a ameaça de Brainiac não permeará mais essa temporada, ficará a sensação de que toda essa trama até ali foi não só uma óptima história mal aproveitada servindo de “enche linguiça”, como também serviu de pretexto para a intercecção da Legião dos Super-Heróis e para dar uma certa importância a personagem de Chloe. Assim, como os poderes dela descobertos na 6ª temporada que hoje já não existem mais.
Bem, voltando....Clark insere-se dentro do mundo corrupto policial. Seja em Gothan City, seja no Rio de Janeiro, seja em Metrópolis, a linha que divide a polícia dos bandidos é estritamente tênue. Como diria alguns descrentes e leigos, polícia é apenas um bandido com uniforme e carteira assinada. Pode se dizer que esse tipo de pessoa seria perfeito para viver um descrente habitante de Gothan City. A diferença é que em Smallville eles tem o Clark para impedir a generalização e em Gothan eles tem o Batman.
Curioso o churrasquinho n0 dia de tempo mau entre os amigos policiais, divididos entre o policia bom e os amigos policiais corruptos, clichê máximo dos filmes e séries policiais dos anos 80 e 90. Muito diferente ver esse tipo de cena em Smallville.
Os policias descrentes debochando da fé do Clark na Justiça foi triste. Senti-me triste e frustrado pelo Clark, a cara dele ao ver aquilo foi de doer na alma, ainda mais ele, que sempre confiou na justiça e na policia, ainda mais tendo como referência os policias e xerifes honestos do interior, como a Xerife Adams... Mas como Danny Boy, o ex ajudante do palco do Gugu, bem lembrou, na cidade grande as coisas são bem diferentes e policias mortos ou corruptos não são manchetes.
Enquanto Clark e Oliver ainda tropeçam agindo sozinhos, Lana Lang dá um banho nos dois quando o assunto é agir como lobo solitário.O Clark nem sonha o que Lana se tornou, nem sonha as visitas da eterna ex-srª Luthor à mansão e seus latrocínios inveterados, e nem imagina que o Arqueiro Verde já teve uma pequena mostra dos sombrios segredos guardados pela rapariga mais odiada de Pequenópolis.
Lana recebe a visita de Tess na Fundação Ísis. E diz-se de passagem, que visita, hein?
Quando Tess afirma que agora sabia o que Lex havia visto nela, Lana responde que o que Lex viu nela foi uma pessoa igual a ele, e incontrolável. Lana prova que não esqueceu as valorosas lições aprendidas no ‘Cursinho de Como Se tornar uma Luthor em 6 meses’ aprendido na sexta temporada. E realmente, há de se reconhecer que, como personagem dúbia, dissimulada e que consegue sustentar duas personalidades para atingir seus objetivos, Lana realmente se tornou uma igual ao Lex. Em algum lugar deste mundo, Helen Bryce derruba uma lágrima... ou se revira no túmulo, dependendo do que resultou o salto dela do avião do Lex na terceira temporada.
E eis que presenciamos a melhor luta já travada entre mulheres em Smallville. Super bem dirigida, super ágil, golpes precisos e rápidos, cheios das técnicas japonesas, e de quebra Smallville fazendo propaganda para o que os fãs da série podem esperar da actuação de Kristin em Street Fighter - The Legend of Chun Li. Sem dúvida o ponto alto do episódio foi esta luta, que aliás tem ainda a surpreendente vantagem de ter sido uma luta crua, sem efeitos especiais, e mesmo assim melhor do que as lutinhas forçadas e toscas que o eterno rei do ‘trash policial’ Steven Seagal já realizou na vida!
Enquanto Lana se diverte com Tess, Clark age como o verdadeiro super e como uma luz alternativa de esperança e justiça na vida do oficial Daniel Turpkin, e faz com ele o que disse que faria na conversa com o Arqueiro Verde: o verdadeiro herói não é aquele que acaba com os bandidos deixando-os sem qualquer perspectivas, mas sim aquele que consegue tirar alguém do caminho errado e colocá-lo no caminho certo, fazendo bem não só a ele próprio como a própria sociedade que é beneficiada não só com um mal feitor a menos, mas também com um bom cidadão a mais para ajudar a construir um mundo melhor. Alguém quer prova maior de que Clark é claramente um sério candidato a ganhador do Prêmio Nobel made in DC Comics?
Excelente ideia esta de Lex ter colocado em Tess nanochips nos seus olhos aproveitando-se do seu mal estado após a explosão na América do Sul (teria sido o laboratório do 33.1 destruído em Campo Grande? ).
Mas Tess prova que não é idiota, e diz a Lex tudo o que ele certamente não queria ouvir. Gostaria de saber como Lex reagiu ao ouvir Tess dizendo que ele perderia qualquer contato com o mundo exterior, que teria suas contas bloqueadas e até feito o Planeta Diário dar Lex como morto, o que indica que Tess parou de procurar Lex também. A menina ficou brava.
Levando em conta que Michael Rosembeaum topou voltar ao papel de Lex nos dois últimos episódios da série, é de se acreditar que Tess vai ter exatamente (ou parecido) o fim que teve no filme "Superman Doomsday" praticamente foi ratificada neste episódio, afinal, quando Lex jamais esquece de quem lhe vira as costas?! Se nem Clark, Lana, Grant ou o próprio pai Luthor foram poupados após fazerem-no sentir-se traído, que dirá Tess que nunca passou de uma serviçal como tantos outros que Lex já teve - e que não sobreviveram nem pra desfrutar dos altos salários que ganharam ajudando-o e dedicando suas vidas a ele. Tess praticamente acabou assinando seu atestado de óbito ao decretar a morte de Lex no Planeta Diário e cortar sua comunicação com o mundo.
E no final, como prova de que os opostos se atraem, Clark e Lana nos remetem às primeiras temporadas, em que Lana era a desajeitada atendente de cafeteria com seus famosos capuccinos com sabor de Nescal, com aparência de Suco de Maracujá e que na realidade eram sucos de Tamarindo. Clark vai lá após ouvir de Turpkin que um herói não pode salvar os demais se não é capaz de cuidar e estar com aqueles dos quais realmente ama e dão sentido a seus heroísmos, e após ouvir da mulher dele que Metrópolis precisa de seu marido, mas ela e seu filho precisavam mais.
Lana ficou meio desconcertada, e fez questão de lembrar Clark que já não tinham 14 anos, e que Clark fazia parecer como se aquela época fosse algo bom, em clara alusão ao facto de Lana saber que Clark e ela estão melhores agora do que estavam naquela época, quando não passavam de adolescentes inseguros sem um rumo e sem ideais próprios. Mas Clark parece que se nega a entender o que Lana quer dizer, e faz a velha pergunta "porque é que o mundo tem que vir em primeiro?". Só que Clark esquece que ele não é Turpkin e que Lana não é a doce dona de casa da família Turpkin cuja única aspiração é cuidar da casa, do filho e ser garçonete no churrasquinho particular do maridinho.
Lana insiste que o mundo é mais importante do que eles ou do que o que eles sentem, mostrando que ela pelo jeito evoluiu muito mais neste ponto do que o Clark, disposta a sacrificar seus sentimentos egoístas por um bem maior. Mas Clark insiste numa nova chance, e lhe dá um beijo, ao qual Lana não se entrega completamente, gerando um olhar estranho por parte do Clark, que pode enfim ter percebido que o amor deles já não é tão grande ou praticamente nem existe mais.
Provando que, assim como a Saturn Girl disse, caberá a Lana direccionar o Clark ao caminho correcto, e fazê-lo entender que nunca um sentimento por uma mulher deverá jamais ser comparado aos destinos e vidas do resto do mundo. A falta de entrega de Lana ao beijo e a provável rejeição dela ao Clark, disposta a fazer com que ele aceite que deve seguir priorizando o mundo acima dos seus próprios sentimentos, será o que definirá o que Clark será no futuro.
E ao final, também tivemos a última lição que faltava ao Marciano dar ao Clark: a de que 3 em conjunto sempre fazem mais do que um sozinho, e que o orgulho jamais pode permear a actuação de um herói, pois esta pode também ser sua desgraça.Praticamente foi um ensinamento para a Liga.Enfim, foi um óptimo episódio, que sacramentou o que deveremos esperar do que virá a seguir, um episódio que deitou novamente Clark em conflito entre seus próprios sentimentos e suas obrigações, mas desta vez em carácter definitivo, a libertação de Tess como mera fantoche de Lex, e Lana efectivando seu xeque mate vingativo contra o império Luthor e de quebra iniciando o processo que fará Clark aceitar-se de vez como um herói muito acima de seus anseios pessoais, como Saturn Girl já nos havia dado a dica.
Sem comentários:
Enviar um comentário